sábado, 23 de julho de 2011

Cartas por escrever

Joaquim,

O meu amor por ti não cabe numa folha de papel.

Saudosamente,
Ophelia.

domingo, 5 de dezembro de 2010

«O Passado não assombra, ensina.» - proferia o António sabiamente. Vou tentar repetir estas palavras baixinho muitas vezes para mim mesma até que isto se concretize.

sexta-feira, 12 de novembro de 2010

Isto consome-me, desfaz-me, mata-me. Nós somos todos velhos senis, estas ruas não são cidades, são vilas, aldeias de desilusão. Não passa homem, não passa mosca, passa o bêbedo que sobe a rua da adega, ser que pontapeia o ar com o olhar e segue caminho sem dar por mim. E é o abandono que me esfola, a insatisfação que me dói. Porque é que o Mundo, porque é que o Mundo não vem e pega em mim. Não me abraça e me deixa cerrar os olhos assim. Ficar aqui assim, adormecer aqui assim. Eu carrego os túmulos de mil homens, rosas giram no seu interior. Elas gritam, elas desvanecem, elas desfalecem, eu também vou acabar assim. A terra que mil pés caminharam, a terra com que outros enterraram, eu tenho terra nos olhos para não cair aqui, para não me deitar aqui. Mas porquê? Os meus braços quebram aqui, os meus joelhos cedem aqui, a minha dor não existe aqui, eu sou o que já sofri. Eu morro aqui.
Eu já to disse e volto a frisar que nada disto cabe em mim, é-me maior e eu não sei viver assim.

sábado, 6 de novembro de 2010



Joaquim
,


É de amor que te escrevo, é com amor que o faço. Os últimos tempos não têm sido fáceis. Nem para ti, nem para mim, nem para nós. O tempo tomou conta dos dois e envelhecemos sem retorno. E eu estou desgastada, marcada pelo que já foi. Estou doente, fraca e as minhas chagas teimam em não sarar.

É que estas paredes sufocam-me, comprimem-me e todo o meu amor não cabe em mim. Por vezes sinto que vou rebentar de tanto que tenho para dizer. E é importante que nada fique por dizer. Tu sabes que eu quero percorrer o mundo, descobrir para lá do que há para descobrir, conhecer a plenitude e só aí terei paz. E é contigo que quero fazê-lo, ver tudo através do teu olhar. Mas eu prefiro viver no limite da vida que vivê-la com limites e esta é uma luta interior que me corrói, me desfaz por dentro, me bloqueia o pensamento. Por agora limitar-me-ei à redundância das palavras até que estas me façam ver tudo claramente. Escrever-te-ei até que nada mais haja para relatar, até que vejas o meu peito aberto a ti.

Desculpa, meu amor, se te tiro a paciência ou se te moo o juízo, é que eu sou demente e isto dá cabo de mim.


A tua (somente e irrevogavelmente tua) Ophelia

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Busca eterna na efemeridade do tempo

...ou Horas Mortas

«(...)

Se eu não morresse, nunca! E eternamente Buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!

(...)

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis, Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!»

Cesário Verde

mel.

«Li num cabeçalho o passado tem os olhos do presente postos no futuro»

Alexandre O'Neill