quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Busca eterna na efemeridade do tempo

...ou Horas Mortas

«(...)

Se eu não morresse, nunca! E eternamente Buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!

(...)

Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis, Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!»

Cesário Verde

mel.

«Li num cabeçalho o passado tem os olhos do presente postos no futuro»

Alexandre O'Neill

Esta é a Cidade

«(...) Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
são automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descansa,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.
Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!
(...)»

António Gedeão

sábado, 2 de outubro de 2010

Baú

"O prolongar do tempo, o ponteiro do relógio redondo que acompanhava o rio e a ponte e a janela onde demorava a combustão dos cigarros, as cartas atiradas ao chão e ao vento. (...) Vinhas devagar, delicado, suave (...) Mas sonhos, tudo isto são sonhos. Imagens que se encontram, melodias distantes."
As minhas noites de insónias entre lágrimas e cigarros na varanda onde a tua casa me fita não cessaram. Durante muito tempo culpei-me a mim. Cometi erros atrás de erros e remediei arrependimento com maior arrependimento e dor com isolamento. Depois culpei-te a ti. Ainda o faço, por vezes. Sempre achei que, desse por onde desse, a minha vida estagnara para sempre nesse momento. E que sozinha, dormente, era a única forma de estar. Todas as manhãs eram um mar de lágrimas, repetidas ao cair da noite. O dia e os calmantes moviam-me mecanica e inanimadamente. Agora sou capaz de olhar em retrospectiva, vejo as coisas mais claramente. Embora ainda pense que há demasiado cinzento e subjectivo nisto. Percebi que existe, de facto, um motivo, ainda que amargo e velhaco, para quase tudo e que pode haver cor para além de ti. Decidi deixar de culpar, deixar de odiar. De sofrer, de morrer. E agora resta-me saber quando é que tu o irás fazer.