sábado, 2 de outubro de 2010

Baú

"O prolongar do tempo, o ponteiro do relógio redondo que acompanhava o rio e a ponte e a janela onde demorava a combustão dos cigarros, as cartas atiradas ao chão e ao vento. (...) Vinhas devagar, delicado, suave (...) Mas sonhos, tudo isto são sonhos. Imagens que se encontram, melodias distantes."
As minhas noites de insónias entre lágrimas e cigarros na varanda onde a tua casa me fita não cessaram. Durante muito tempo culpei-me a mim. Cometi erros atrás de erros e remediei arrependimento com maior arrependimento e dor com isolamento. Depois culpei-te a ti. Ainda o faço, por vezes. Sempre achei que, desse por onde desse, a minha vida estagnara para sempre nesse momento. E que sozinha, dormente, era a única forma de estar. Todas as manhãs eram um mar de lágrimas, repetidas ao cair da noite. O dia e os calmantes moviam-me mecanica e inanimadamente. Agora sou capaz de olhar em retrospectiva, vejo as coisas mais claramente. Embora ainda pense que há demasiado cinzento e subjectivo nisto. Percebi que existe, de facto, um motivo, ainda que amargo e velhaco, para quase tudo e que pode haver cor para além de ti. Decidi deixar de culpar, deixar de odiar. De sofrer, de morrer. E agora resta-me saber quando é que tu o irás fazer.

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