domingo, 5 de dezembro de 2010
sexta-feira, 12 de novembro de 2010
Isto consome-me, desfaz-me, mata-me. Nós somos todos velhos senis, estas ruas não são cidades, são vilas, aldeias de desilusão. Não passa homem, não passa mosca, passa o bêbedo que sobe a rua da adega, ser que pontapeia o ar com o olhar e segue caminho sem dar por mim. E é o abandono que me esfola, a insatisfação que me dói. Porque é que o Mundo, porque é que o Mundo não vem e pega em mim. Não me abraça e me deixa cerrar os olhos assim. Ficar aqui assim, adormecer aqui assim. Eu carrego os túmulos de mil homens, rosas giram no seu interior. Elas gritam, elas desvanecem, elas desfalecem, eu também vou acabar assim. A terra que mil pés caminharam, a terra com que outros enterraram, eu tenho terra nos olhos para não cair aqui, para não me deitar aqui. Mas porquê? Os meus braços quebram aqui, os meus joelhos cedem aqui, a minha dor não existe aqui, eu sou o que já sofri. Eu morro aqui.
sábado, 6 de novembro de 2010
Joaquim,
É de amor que te escrevo, é com amor que o faço. Os últimos tempos não têm sido fáceis. Nem para ti, nem para mim, nem para nós. O tempo tomou conta dos dois e envelhecemos sem retorno. E eu estou desgastada, marcada pelo que já foi. Estou doente, fraca e as minhas chagas teimam em não sarar.
É que estas paredes sufocam-me, comprimem-me e todo o meu amor não cabe em mim. Por vezes sinto que vou rebentar de tanto que tenho para dizer. E é importante que nada fique por dizer. Tu sabes que eu quero percorrer o mundo, descobrir para lá do que há para descobrir, conhecer a plenitude e só aí terei paz. E é contigo que quero fazê-lo, ver tudo através do teu olhar. Mas eu prefiro viver no limite da vida que vivê-la com limites e esta é uma luta interior que me corrói, me desfaz por dentro, me bloqueia o pensamento. Por agora limitar-me-ei à redundância das palavras até que estas me façam ver tudo claramente. Escrever-te-ei até que nada mais haja para relatar, até que vejas o meu peito aberto a ti.
Desculpa, meu amor, se te tiro a paciência ou se te moo o juízo, é que eu sou demente e isto dá cabo de mim.
A tua (somente e irrevogavelmente tua) Ophelia
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
Busca eterna na efemeridade do tempo
...ou Horas Mortas
«(...)
Se eu não morresse, nunca! E eternamente
Buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!
(...)
Ó nossos filhos! Que de sonhos ágeis,
Pousando, vos trarão a nitidez às vidas!»
Cesário Verde
Esta é a Cidade
«(...)
Aperfeiçoo a focagem.
Olho imagem por imagem
numa comoção crescente.
Enchem-se-me os olhos de água.
Tanto sonho! Tanta mágoa!
Tanta coisa! Tanta gente!
são automóveis, lambretas,
motos, vespas, bicicletas,
carros, carrinhos, carretas,
e gente, sempre mais gente,
gente, gente, gente, gente,
num tumulto permanente
que não cansa nem descansa,
um rio que no mar se lança
em caudalosa corrente.
Tanto sonho! Tanta esperança!
Tanta mágoa! Tanta gente!
(...)»
António Gedeão
sábado, 2 de outubro de 2010
Baú
"O prolongar do tempo, o ponteiro do relógio redondo que acompanhava o rio e a ponte e a janela onde demorava a combustão dos cigarros, as cartas atiradas ao chão e ao vento. (...) Vinhas devagar, delicado, suave (...) Mas sonhos, tudo isto são sonhos. Imagens que se encontram, melodias distantes."
As minhas noites de insónias entre lágrimas e cigarros na varanda onde a tua casa me fita não cessaram. Durante muito tempo culpei-me a mim. Cometi erros atrás de erros e remediei arrependimento com maior arrependimento e dor com isolamento. Depois culpei-te a ti. Ainda o faço, por vezes. Sempre achei que, desse por onde desse, a minha vida estagnara para sempre nesse momento. E que sozinha, dormente, era a única forma de estar. Todas as manhãs eram um mar de lágrimas, repetidas ao cair da noite. O dia e os calmantes moviam-me mecanica e inanimadamente. Agora sou capaz de olhar em retrospectiva, vejo as coisas mais claramente. Embora ainda pense que há demasiado cinzento e subjectivo nisto. Percebi que existe, de facto, um motivo, ainda que amargo e velhaco, para quase tudo e que pode haver cor para além de ti. Decidi deixar de culpar, deixar de odiar. De sofrer, de morrer. E agora resta-me saber quando é que tu o irás fazer.
domingo, 13 de junho de 2010
quarta-feira, 26 de maio de 2010
segunda-feira, 24 de maio de 2010
Quero ficar sempre assim. Estagnar nesta harmonia e equilíbrio perfeitos, neste estado de espírito surreal.
Não quero ter de acordar mais uma vez no pesadelo de ver a cama vazia e desfeita e a noite para trás de nós. Não quero sentir consciência nem o pesar do que sou ou da tua ausência em mim.
Não quero voltar à realidade, escolho ser irreal.
domingo, 23 de maio de 2010
Êxtase
Muitas vezes, sou absorvida por uma arrebatadora vontade de pôr uma mala às costas, fechar a porta e fugir de tudo o que me rodeia por algo tão simples como o êxtase, puro êxtase e viver apenas em função disso. Adorava experiênciá-lo, nem que apenas por uma noite e atingir o limiar de prazer que o corpo nos pode proporcionar.
Dançar na chuva, gritar, cantar, rir e rebolar na relva no mais puro e inatingível dos sentimentos. Deixar-me vibrar e tremer de excitação e emoção, sentir arrepios percorrerem-me cada centímetro da pele, sem me preocupar com absolutamente nada, isolando-me num universo da mais satisfatória e prazerosa felicidade. Quebrar toda e qualquer rotina ou monotonia, exceder os meus limites, partir numa busca desenfreada, numa aventura infindável. Deixar expandir o meu eu, permitir à minha mente descobrir de pés descalços trilhos que nunca percorreu, sentir o meu coração explodir ao ritmo de uma bateria e vozes rasgadas por cima de guitarras melódicas e aceleradas. Sentir e viver tudo a um ritmo alucinante. "Sentir tudo de todas as maneiras".
domingo, 21 de março de 2010
domingo, 14 de março de 2010
Belém
Passo a publicidade à exposição antológica da artista plástica/designer Joana Vasconcelos, intitulada "Sem Rede" a ter lugar no Museu Colecção Berardo, no Centro Cultural de Belém, com entrada gratuita, até 18 de Maio. Todo o tipo de esculturas e peças de design artístico executadas a partir dos materiais mais improváveis são aqui reunidas.
Aqui é possível também visitar a exposição paralela "Auto-retratos do Mundo" da fotógrafa realista, escritora, jornalista e viajante suíça Annemarie Schwarzenbach (1908-1942) que apresenta cerca de 200 fotografias da sua autoria, bem como documentos literários e jornalísticos, mostrando o crescimento dos movimentos fascista e nazi na Áustria e o "fascismo soalheiro" do Estado Novo, retratando as sociedades islâmicas e o Médio Oriente, entre outras viagens por si realizadas e documentadas, para além de uma extensa fotobiografia. Através da sua obra fotográfica, é-nos mostrada a sua visão extremamente crítica em relação ao nazismo alemão e "a sua profunda e humanista reflexão sobre o mundo". De visita obrigatória.
domingo, 7 de março de 2010
terça-feira, 2 de março de 2010
quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010
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